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Vida multicelular surgiu um bilhão de anos antes do previsto
Pesquisadores chineses encontraram fósseis datados de 1,56 bilhão de anos com estruturas que acreditam ser provenientes de organismos com células complexas
aleontólogos da China anunciaram a descoberta de organismos com células complexas (conhecidas como eucariotas) que podem ser os exemplos mais antigos de vida multicelular da Terra. De acordo com o estudo, publicado na última terça-feira na revista especializada Nature Connnections, os fósseis são datados de 1,56 bilhão de anos, o que anteciparia amplamente a origem da vida complexa no planeta.
A equipe de pesquisadores, encabeçada por Maoyan Zhu, da Academia de Ciências de Pequim, e Andrew Knoll, da Universidade de Harvard, identificou uma espécie de rocha que, ao ser aberta, revelou impressões fósseis parecidas com algas que tinham quatro formas diferentes. De acordo com os paleontólogos, esse tipo de organismo só poderia ter sido originado de grandes seres multicelulares – os mais antigos já estudados.
Controverso – A descoberta coloca em cheque o que os pesquisadores sabem sobre a época da evolução de organismos unicelulares para multicelulares. Até o momento, acreditava-se que as primeiras formas de vida que apareceram na Terra, por volta de 3,5 bilhões de anos atrás, foram unicelulares: seres vivos constituídos de uma única célula sem núcleo, como as bactérias.
As células eucariotas presentes em organismos complexos – como os que os pesquisadores acreditam ter encontrado – possuem cromossomos abrigados dentro de um núcleo e são presentes em seres como plantas e mamíferos. Em geral, estudos estimam a existência de células eucariotas em 635 milhões de anos, período aproximadamente um bilhão de anos mais recente do que a equipe chinesa sugere. “Nós afirmamos que a nossa descoberta antecipa em cerca de um bilhão de anos o aparecimento de eucariotas multicelulares macroscópicas”, declarou à AFP Zhu.
Como os fósseis dessa idade (1,56 bilhão de anos) só podem ser vistos, geralmente, sob as lentes de um microscópio, encontrar uma estrutura visível a olho nu foi uma surpresa para os pesquisadores. Os 167 fósseis encontrados em Gaoyuzhuang, no norte da China, têm até 4 tipos de forma linear e até 30 centímetros de comprimento por oito de largura – o formato de um terço dos fósseis possuía a forma de uma “língua” e, nessas estruturas, espécies de linhas regulares seguiam paralelas ao eixo de comprimento do organismo, o que seria um dos indícios de complexidade celular.
A similaridade com as algas vistas nos oceanos, de acordo com eles, sugere que esses organismos provavelmente realizavam fotossíntese, uma característica que explicaria como as células eucariotas desenvolveram a habilidade de transformar luz em energia.
Dúvidas – A comunidade científica, no entanto, não entrou em um consenso sobre os resultados do estudo chinês. Alguns pesquisadores caracterizam a descoberta como importante para o desenvolvimento de novas pesquisas. “Certamente são os mais antigos eucariotas multicelulares”, disse à AFP o professor Philip Donoghue, da Universidade de Bristol, no Reino Unido. Mesmo assim, há quem discorde. “Não existe nada na pesquisa que demonstre que os organismos são eucariotas. Nada contradiz que as evidências possam ser de simples bactérias unicelulares.”, disse Jonathan Antcliffe, da Universidade de Oxford, no Reino Unido.
O debate já havia sido levantado em 2010, quando Abderrazak El Albani e sua equipe anunciaram, em artigo publicado na revista Nature, a descoberta de fósseis em Franceville, no Gabão, demonstrando que a existência de eucariotas remontava a 2,1 bilhões de anos. Desta vez, porém, o cientista se diz um pouco mais reservado. “Não porque não acredite, mas porque não há argumentos suficientes para apoiar a hipótese de uma multicelularidade complexa eucariota”, explicou El Albani à AFP.
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