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Virgínia se destaca nas ações de prisões por imigração nos EUA

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O número de detenção de imigrantes nos Estados Unidos cresceu significativamente durante o segundo mandato de Donald Trump. Nenhum lugar, porém, experimentou um aumento tão pronunciado quanto o estado da Virgínia.

As prisões feitas pelo Serviço de Imigração e Alfândega (ICE) na Virgínia aumentaram em mais de 350% desde 2024, posicionando o estado entre os que tiveram maior crescimento no país.

Quase 3 mil pessoas foram detidas pelo ICE na Virgínia nos primeiros cinco meses de 2025, valor próximo ao registrado em estados maiores como Nova York.

A razão pela qual a Virgínia se tornou um centro de fiscalização imigratória não é completamente clara. A população de imigrantes no estado cresceu muito nas últimas décadas, chegando a mais de 1 milhão, em sua maioria cidadãos ou residentes legais.

Ao comparar com vizinhos como Maryland, onde as prisões não cresceram tanto, percebe-se que o percentual de moradores nascidos em outros países é menor na Virgínia.

Uma possível explicação é o amplo apoio que o ICE recebe das lideranças do estado e dos xerifes locais.

Glenn Youngkin, governador republicano prestes a encerrar seu mandato, tem sido firme no apoio às ações de repressão a imigrantes promovidas pelo governo Trump.

Ele não economiza críticas aos chamados “imigrantes ilegais criminosos” e apoia uma força-tarefa estadual e federal que combate o “crime organizado transnacional”.

Além disso, Youngkin orientou as forças policiais a colaborarem com as autoridades federais de imigração e ameaçou cortar verbas de localidades que não cooperassem com o ICE.

“Registramos mais de 2.500 prisões com nossa Força-Tarefa de Segurança Interna, pessoas criminosas violentas que estavam ilegalmente no país”, declarou Youngkin em coletiva na Sede da Polícia Estadual da Virgínia. “É por isso que nosso estado está mais seguro hoje”, acrescentou.

Embora muitos dos detidos sejam acusados de crimes graves, grupos de defesa dos imigrantes afirmam que boa parte não possui antecedentes criminais.

Marilyn Figueroa, líder da CASA, organização em defesa dos direitos dos imigrantes, citou casos de pessoas detidas enquanto realizavam atividades corriqueiras, como ir a uma loja.

Além disso, relatos apontam que detenções também ocorrem após abordagens por infrações de trânsito.

Colaboração dos xerifes com o ICE

Xerifes de 19 condados da Virgínia firmaram acordos formais com o ICE, garantindo alto grau de cooperação e permitindo que agentes locais realizem prisões relacionadas à imigração.

Embora a maioria desses condados seja rural, alguns condados mais populosos, como Fairfax, compartilham informações com o ICE, o que uma nova lei estadual passou a proibir.

A maior parte das prisões ocorre nos subúrbios do norte da Virgínia e na área metropolitana de Richmond.

O Condado de Fairfax, uma área rica e densamente povoada, registra quase o dobro de detenções do ICE em comparação a outros condados.

Fatores práticos e políticos

O grande número de imigrantes ativos nestas regiões é um fator, mas especialistas acreditam que a proximidade com Washington, capital dos EUA, também ajuda a explicar o foco na Virgínia.

Ava Benach, advogada de imigração em Washington, observa que o estado recebe mais atenção da Casa Branca do que outros por essa razão.

Além disso, o governo Trump explicitamente direcionou esforços para locais com administração democrata, tornando o Condado de Fairfax um alvo estratégico prático e político.

Em março, a secretária de segurança interna Kristi Noem participou de uma operação em Arlington, reforçando que o norte da Virgínia está mais seguro após ações contra estrangeiros criminosos.

Naquela ocasião, Youngkin também anunciou a prisão de um suposto líder de gangue local, que depois teve as acusações federais retiradas para ser entregue ao ICE.

Prisões em tribunais e oportunidades fáceis

O Condado de Fairfax abriga o principal tribunal de imigração do estado, que se transformou em foco das operações do ICE.

Em junho, foram registradas prisões de pessoas durante audiências naquele tribunal e também no Condado de Loudoun.

Miriam Airington-Fisher, advogada em Richmond, comenta que o ICE procura situações propícias, como audiências em comunidades com grande população latina, para realizar detenções em massa.

Prisões também ocorrem dentro e ao redor dos tribunais de condado, como em Chesterfield, onde um homem com longa residência nos EUA preso ao comparecer para pagar multas de trânsito foi detido.

Virgínia como campo de testes

Essa intensificação nas prisões pode aumentar, com o ICE buscando cumprir as demandas da Casa Branca.

Luis Aguilar, diretor da CASA na Virgínia, afirma que o estado é usado como laboratório para testar estratégias, táticas e mensagens, com financiamento elevado permitindo expansão das operações.

Com verbas maiores, o ICE poderá abrir mais escritórios e contratar agentes para replicar o modelo aplicado na Virgínia em outras regiões do país.

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