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Com acarajé e sarapatel, Rui Costa tenta conquistar apoio de Arthur Lira

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Planalto quer melhorar relação com a Câmara, e presidente da Casa espera, com aproximação, emplacar demandas

Escalado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para coordenar os ministérios do governo, o chefe da Casa Civil, Rui Costa, tem se movimentado para desempenhar outro papel: o de interlocutor do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). Com essa nova relação política, o governo espera evitar turbulências com deputados, enquanto Lira quer emplacar demandas de parlamentares aliados, de emendas a indicações em cargos públicos

O pragmatismo que uniu Costa e Lira é celebrado por diferentes parlamentares, que esperam colher os dividendos da nova parceria.

— Arthur gosta de quem é pragmático e resolutivo. Não gosta de gente de conversa boa e que não resolve. Rui tem o perfil de pessoa que Arthur gosta, e, quando eu o procurei, sempre me atendeu — afirma o deputado Felipe Carreras (PSB-PE), aliado do presidente da Câmara.

Costa foi destacado por Lula para fazer a ponte entre o Palácio do Planalto e Lira após o presidente da Câmara romper com o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, responsável pela articulação política do governo. O estopim da desavença ocorreu após a edição de uma portaria que prevê novas regras para a liberação de recursos apadrinhados por parlamentares na área da saúde. O chefe da Casa Civil tem falado quase todos os dias e se reunido ao menos uma vez por semana com Lira.

Gentilezas

Durante o carnaval, Costa pediu ao seu sucessor no governo da Bahia, Jerônimo Rodrigues (PT), para promover um almoço regado a acarajé, abará, sarapatel e feijoada no Palácio de Ondina, sede do Executivo local, para receber Lira como convidado principal. A ideia era dar boas-vindas ao presidente da Câmara e arrefecer a irritação do deputado com Lula externada no discurso no início do ano legislativo.

No encontro, para agradar a Lira, Costa deixou até de lado desavenças políticas e ciceroneou um antigo rival, o deputado federal Elmar Nascimento (União-BA), fiel escudeiro do presidente da Câmara que almeja ser o próximo presidente da Casa legislativa. Ao longo da confraternização, Lira disse o que o ministro da Casa Civil queria ouvir: que tem interesse em contribuir com o governo.

Nas conversas entre os dois neoaliados, o deputado alagoano pediu ao chefe da Casa Civil que o governo apoie o seu candidato à sucessão na presidência da Câmara. O tema, no entanto, é delicado para Costa — que, embora dê sinais de que não apresenta qualquer restrição a Elmar, nome preferido de Lira, mantém a posição de neutralidade do presidente Lula. O ministro é amigo de outro postulante ao cargo, o deputado Antonio Brito (PSD-BA), que também participou do almoço no Palácio de Ondina.

Essa disputa pode colocar à prova a relação de ganha-ganha entre Costa e Lira — que já foi estremecida no passado, quando o presidente da Câmara sugeriu a Lula que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, ocupasse a cadeira de chefe da Casa Civil.

Deixando as divergências no passado e focado no pragmatismo, Costa tem se movimentado, ao lado de Haddad, na negociação com Lira de um acordo para impedir a derrubada do veto presidencial que cortou R$ 5,6 bilhões em emendas de comissão. Uma das possibilidades em análise é o governo recompor esse valor nos próximos meses — cenário que dependeria do comportamento do Orçamento, com aumento de receitas ao longo do ano.

O chefe da Casa Civil também ajudou a costurar o calendário para pagamento de emendas até 30 de junho deste ano, um movimento considerado estratégico para liberar verba para prefeituras às vésperas das eleições municipais. A iniciativa havia sido vetada por Lula, mas, após nova crise com o Congresso, o governo recuou.

Costa elegeu ainda o PAC Seleções, programa de obras voltado para atender governadores e prefeitos, para ampliar a sua interlocução com Lira e seus aliados. A expectativa do ministro da Casa Civil é que parlamentares direcionem emendas para municípios — e apadrinhem os canteiros em seus redutos eleitorais. Deputados, porém, veem a proposta com certa desconfiança, pois preferem escolher livremente a distribuição de verba. Para convencer integrantes do Congresso, Costa conta com o apoio de Lira.

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