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Economia

Como o socorro de R$ 7,8 trilhões da Europa pode beneficiar o Brasil

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Máscaras, restaurantes em ambientes abertos e distanciamento social. A Europa, aos poucos, começa a voltar à normalidade adaptada, um cotidiano importado pelo novo coronavírus passada a drasticidade do pior momento da pandemia. Mesmo com as economias voltando a engrenar, o Banco Central Europeu (BCE) injetou 1,35 trilhão de euros, ou extraordinários 7,8 trilhões de reais, medida mais agressiva do que o esperado, para estimular a atividade. Para se ter noção, o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil, em 2019, somou 7,3 trilhões de reais.

“Não somos ricos pelo que temos, e sim pelo que não precisamos ter”, escreveu certa vez o filósofo prussiano Immanuel Kant (1724-1804). Não dá para o brasileiro não ter o mínimo de inveja da atuação do BCE —  pelo o que precisávamos, e muito, ter. Inicialmente orçado na bagatela de 750 bilhões de euros, o pacote de estímulo foi impulsionado em 600 bilhões de euros. A instituição apontou que os aportes devem se estender por pelo menos um ano.

Na incapacidade de brincar no mesmo patamar, o Brasil sai fortalecido por esta dinheirama. Apesar da injeção trilionária, o Banco Central Europeu manteve inalteradas suas taxas de juros, entre 0% e -0,5%. Afogar o mercado de dinheiro, assim como feito no Brasil e nos Estados Unidos, foi um movimento necessário para manter a liquidez, ou dinheiro rolando, enquanto as economias estavam fechadas. Passado o pior momento e a fuga de capital estrangeiro do Brasil, os olhos voltam-se de novo para o país. Apesar da crise política que assola o país e a postura errática de Jair Bolsonaro no combate à pandemia, as taxas de juros baixas, porém positivas, tornam o país atrativo para o mercado e trazem investidores para o país. “O mundo se volta ao Brasil por causa das taxas de juros positivas, o investidor não tem muito o que fazer com rentabilidade negativa”, explica Maurício Godoi, professor de economia da Saint Paul.

Quando a pandemia assolava a Europa de forma mais latente, o medo tomou conta dos investidores. O movimento natural foi arrancar o dinheiro de países como o Brasil e investir em moeda americana, tida como um dos aportes mais seguros. Com a reabertura gradual e retomada da atividade ao redor do mundo, os olhos voltam-se para mercados emergentes que, nos últimos anos, fizeram o dever de casa. O Brasil, em alguma medida, estava trabalhando para se recuperar a grave crise fiscal de 2016 com mudanças estruturais, como a implementação do Teto de Gastos e a Reforma da Previdência. Apesar do aumento robusto da dívida bruta, que deve passar de 90% do PIB, os investidores ainda não conseguiram mapear qual será ambiente fiscal a longo prazo. Isso cria uma janela de oportunidade, uma vez que parte dos investidores ainda ignoram o ambiente político turbulento do país.

O segredo, adotado por governos ao redor do mundo independentemente de vertentes econômicas, foi apenas um: inflar o mercado de dinheiro para garantir a manutenção dos sinais vitais das economias, a subsistência dos mais fracos e salvar o máximo de empregos possível por meio de empréstimos e a concessão de crédito. Uns podem mais que os outros, é verdade. Mas o cenário externo pode ser bom para o Brasil voltar a crescer. O principal entrave para que o país continue atrativo para as economias globais é, como sempre, o cenário político de um país inflamado, o que pode fazer o bom ânimo dos mercados arrefecer. É preciso inteligência e sobriedade.

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