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Como Twitter e Facebook estão indo para lados opostos nas eleições

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Como não cobram dos usuários, tanto Twitter quanto Facebook ganham mais de 80% de suas receitas com anúncios. Mas a política virou um desafio a essa modelo

Twitter: rede social vai proibir que políticos paguem para impulsionar anúncios (Kacper Pempel/Illustration/Reuters)

O poder dos anúncios

Como não cobram dos usuários, tanto Twitter quanto Facebook têm em anúncios ou compra de alcance em posts patrocinados mais de 80% de suas receitas. Assim, mexer nesta seara é um vespeiro. As ações do Twitter caíram mais de 3% após o anúncio de Dorsey. A declaração veio dias depois de o Twitter divulgar resultados trimestrais abaixo do esperado no dia 24 de outubro, o que já havia feito a ação cair mais de 20%.

Os posts patrocinados fazem com que uma postagem chegue a mais pessoas e, no geral, o anunciante consegue delimitar seu público — como pessoas de certa idade e moradoras de determinada região. Em um nível cada vez maior de personalização, os social media de empresas ou políticos conseguem até mesmo enviar o conteúdo a pessoas de perfil ideológico específico, como pessoas que curtem determinada página ou determinados assuntos.

Esse tipo de modelo permite que os anúncios sejam mais eficientes, mas, ao mesmo tempo, intensificam as “bolhas” na internet. Se um conteúdo falso for patrocinado, pode terminar chegando a milhões de pessoas, que, caso concordem com o que foi exposto, vão compartilhar a informação com sua rede de amigos e gerar um efeito cascata. Mesmo que a informação seja desmentida depois, é difícil que o estrago seja desfeito.

O efeito cascata ainda pode acontecer com o chamado “alcance orgânico”, sem anúncios, mas em intensidade menor. Dorsey aproveitou o anúncio para mandar uma indireta a Zuckerberg. “Não é digno de confiança para nós dizermos: ‘Estamos trabalhando duro para as pessoas pararem de jogar com nossos sistemas e espalhar desinformação, maaas (sic) se alguém nos pagar para focalizar e forçar pessoas a ver seus anúncios políticos… bem… eles podem dizer o que quiserem!’”, escreveu o presidente do Twitter.

Tentando incentivar o efeito orgânico de notícias verdadeiras, o próprio Facebook lançou nesta semana nos Estados Unidos uma aba na rede social chamada de “News” (notícias, em inglês), dedicada exclusivamente a notícias de fontes de portais jornalísticos confiáveis e que passaram por curadoria. O Facebook vai pagar pelas notícias de parceiros como o The New York Times, The Washington Post e Business Insider. Ainda não se sabe quando a iniciativa chegará a outros países.

Mas o próprio “Facebook News” foi criticado. Ainda em sua defesa da liberdade de expressão, Zuckerberg também convidou o portal ultraconservador Breitbart para fazer parte do projeto. Em 2016 e durante o governo Trump, o Breitbart espalhou uma série de notícias falsas sobre a campanha da então candidata democrata Hillary Clinton. O homem forte do Breitbart, Steve Bannon, foi chefe de campanha de Trump e só deixou o portal no início de 2018.

No ano que vem, o presidente Donald Trump, do Partido Republicano, tentará a reeleição contra um candidato da oposição do Partido Democrata ainda a definir — que pode ser o ex-vice presidente Joe Biden ou os senadores Bernie Sanders ou Elizabeth Warren. Mas a um ano das próximas eleições, as feridas da anterior ainda mal cicatrizaram. Em 2016, opositores ao presidente apontam que ajudaram Trump a se eleger. O Congresso e a Justiça americana estavam investigando ainda neste ano uma possível interferência da Rússia no pleito, além de haver constantes discussões sobre o que as redes sociais americanas poderiam ter feito para impedir esse cenário. E estudos mostram que o uso de notícias falsas se repetiu, em ambos os lados do espectro político, nas eleições legislativas (as midterms) de 2018.

No ano passado, Zuckerberg foi chamado ao Congresso para explicar o caso da Cambridge Analytica, e a empresa recebeu neste ano uma multa de 5 bilhões de dólares da Free Trade Comission (comissão reguladora dos Estados Unidos) pelo vazamentos de dados.

Facebook e Twitter não são comparáveis em tamanho. O Facebook é usado mensalmente por 2,45 bilhões de usuários no mundo (incluindo as redes Instagram e WhatsApp, que são do mesmo grupo) e faturou no ano passado 56 bilhões de dólares. O Twitter tem pouco mais de 300 milhões de usuários e 3 bilhões de dólares em faturamento em 2018. Contudo, analistas apontam que a ação do Twitter pode pressionar Zuckerberg a apresentar novas propostas para o comportamento do Facebook durante as eleições.

E no Brasil?

Nas eleições brasileiras de 2018, que elegeram, além do presidente Jair Bolsonaro (PSL), governadores, senadores e deputados federais e estaduais, um dos principais canais de campanha — mas também de fake news — foi o aplicativo de mensagens WhatsApp.

No Brasil, disparos em massa patrocinados por empresários que teriam favorecido Bolsonaro nas eleições são até hoje investigados pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Em uma pesquisa que ficou famosa durante a eleição, um grupo da Universidade de São Paulo e da Universidade Federal de Minas Gerais, em parceria com a Agência Lupa, analisou mais de 300 grupos de WhatsApp sobre política e constatou que 56% das imagens compartilhadas eram falsas ou enganosas. Na ocasião, os pesquisadores publicaram um artigo no jornal americano The New York Times com o título “As fake news estão envenenando a política brasileira. O WhatsApp pode parar isso”. Outra pesquisa, do Monitor do Debate Político no Meio Digital, da USP, identificou grupos de família como grande vetor de fake news.

O tema deve continuar vigente no ano que vem, quando o Brasil terá eleições municipais, com mais de 5.000 municípios escolhendo seus prefeitos e vereadores. Facebook, Twitter e Google ingressaram no mês passado em um projeto do TSE batizado de Programa de Enfrentamento à Desinformação.

O TSE criou o programa em agosto deste ano, visando se preparar para as eleições municipais de 2020. Mais de 30 entidades já estão participando, incluindo alguns partidos políticos e associações de imprensa. O objetivo é somar esforços para desestimular a proliferação de fake news e melhor identificar quando sua disseminação esteja acontecendo, além de capacitar as pessoas a checar informações.

 O WhatsApp, que admitiu neste ano que de fato houve disparos em massa nas eleições de 2018, limitou o compartilhamento de mensagens para no máximo cinco pessoas ou grupos. Mas há quem diga que Zuckerberg precisaria fazer mais. Ao contrário de redes públicas como Facebook e Instagram, as mensagens do WhatsApp são ou privadas ou com grupos de pouco mais de 200 pessoas, tornando difícil que informações falsas sejam denunciadas e retiradas do ar.

O WhatsApp também pertence ao Facebook, mas, como é pouco usados nos Estados Unidos, gerou pouca discussão nas eleições americanas. Mas na troca de farpas entre Zuckerberg e Dorsey, as posições de Twitter e Facebook nos Estados Unidos certamente impactarão a forma de fazer campanha no Brasil. 2020 está logo aí.

 

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