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Dengue: comorbidades agravam doença, principalmente para os idosos

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Especialistas ouvidos pelo Correio apontam que a morte entre adultos e idosos cresceu porque esse grupo é mais propício a complicações anteriores à enfermidade. Já são 15 óbitos entre pessoas de 20 a 59 anos e 20 acima dessa faixa etária

 

O último boletim epidemiológico sobre dengue, divulgado pela Secretaria de Saúde do Distrito Federal (SES-DF), na terça-feira, mostrou uma nova disparada da doença na capital do país. Além do número de casos, a quantidade de mortes também apresentou um grande aumento, principalmente entre os adultos de 20 a 59 anos — que passou de oito para 15 óbitos, na comparação entre os dois últimos boletins.

Segundo o clínico geral e coordenador da Clínica Médica do Hospital Santa Lúcia Gama, Lucas Albanaz, a crescente na morte de adultos pode estar ligada ao fato de que mais pacientes nesta faixa etária estão sendo infectados pela dengue. “Por isso, estatisticamente, mais adultos infectados vão morrer. A gente não pode, ainda, identificar por qual motivo os adultos estão mais infectados, mas o que a gente vê, realmente, é um número de atendimentos maior desse público nos pronto-socorros”, explicou.

De acordo com o informativo epidemiológico da SES-DF, as mortes entre idosos também aumentaram, passando de 12 para 20 óbitos, em uma semana. Médica intensivista do Hospital Santa Marta, Adele Vasconcelos reforçou a fala do infectologista, afirmando que a morte entre os adultos, principalmente dos idosos, é maior porque são pacientes que têm comorbidades anteriores. “Além disso, eles já usam, às vezes, alguma medicação que predispõe sangramentos e têm outros fatores de risco. No caso do idoso acamado, que não bebe água sem que alguém oferte, ele vai desidratar muito mais rápido quando estiver com dengue, evoluindo para complicações como insuficiência renal e sangramentos mais fáceis”, detalhou.

Alerta

Infectologista do Hospital Brasília de Águas Claras, André Bon ressaltou que, devido à quantidade de mortes, é importante lembrar a população sobre a necessidade de procurar atendimento médico rapidamente, na presença dos sinais de alarme. “Eles podem ser dor abdominal intensa e persistente, vômitos persistentes, sangramentos no nariz, gengiva, urina e fezes, além de tontura”, elencou. “Se houver qualquer presença desses sinais, o paciente precisa procurar atendimento médico de maneira imediata, porque ele pode estar evoluindo para formas graves da dengue”, alertou.

Para o especialista, a tendência é que o aumento do número de casos continue. “A gente vê, nesse novo boletim epidemiológico, o que a gente já estava observando antes. O aumento percentual é absolutamente maior em relação a 2023, sendo necessário mantermos as medidas de prevenção, o combate e a ampliação dos postos de atendimento para a dengue, dado que a perspectiva é de aumento entre março e abril”, afirmou.

Mesmo com mais de 124 mil atendimentos relacionados à dengue, somente nas unidades básicas de saúde (UBS) do DF, Lucas Albanaz afirmou que não é o momento de se pensar em novos hospitais de campanha, assim como aconteceu na pandemia da covid-19. “No quadro de covid, a gente tinha pacientes evoluindo de uma forma mais grave, mais rápida e ficando mais tempo internados”, avaliou.

“No caso da dengue, a gente tem visto internações, mas não num número alto. Além disso, elas são mais curtas e com menos pacientes evoluindo para a gravidade”, acrescentou Albanaz. Para ele, o vírus da dengue tem sobrecarregado mais o pronto-socorro. “Talvez, a criação de mais tendas de dengue, para o atendimento da população, seja mais importante, nesse momento, do que a criação de hospitais”, ressaltou.

Opinião diferente tem o coordenador da Infectologia na Rede D’Or no DF, Gilberto Nogueira. Segundo o médico, existe o risco de haver necessidade de mais hospitais de campanha. “Sabidamente, em Brasília, o pico do número de casos da dengue, historicamente, ocorre em abril. Isso quer dizer que, talvez, a gente ainda não tenha chegado no pior momento dessa epidemia”, observou. “Com isso, possivelmente, para que haja a possibilidade de atender todo esse volume de pacientes no período de abril, provavelmente vai ser necessária a criação desses hospitais de campanha”, complementou o especialista.

Gravidade

O sorotipo 2 é o que está sendo mais detectado no DF, de acordo com a Secretaria de Saúde — são 9,8 mil casos das 10,9 amostras de exames em que foram detectadas a doença. Gilberto Nogueira explicou que essa tipagem pode desencadear uma resposta inflamatória mais exacerbada e, por isso, é considerada mais grave.

Mesmo assim, o especialista esclareceu que sempre que um paciente tem um segundo episódio de dengue, tem uma tendência a uma resposta inflamatória exacerbada, também levando ao quadro mais crítico. “Como a gente teve, em Brasília, a prevalência maior do sorotipo 1 ao longo dos anos, agora, no segundo episódio de dengue, estão entrando em contato com sorotipo 2 e, com isso, desenvolvendo uma resposta inflamatória mais intensa”, disse Nogueira.

O clínico Lucas Albanaz complementou que o sorotipo 2 tem uma variabilidade genética maior. “Ele consegue se expressar de uma forma diferente em vários organismos, tendo a possibilidade de evoluir de forma mais grave dentro do nosso corpo (hemorragias, plaquetopenias mais importantes) e é isso que a gente tem visto por aqui”, finalizou.

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