Brasil
Deputados estaduais voltam a fazer fiscalização surpresa em hospitais para Covid-19 em SP
Pelo menos três deputados estaduais de São Paulo participaram nesta segunda-feira (15) de uma fiscalização surpresa no Hospital Geral de Guarulhos, na Grande São Paulo.
Os parlamentares são os mesmos que no último dia 04 de junho participaram de uma fiscalização sem aviso prévio no hospital de campanha do Anhembi, gerando tumulto na entrada.
A ação foi chamada pela prefeitura de São Paulo de ‘invasão’, por expôr funcionários e pacientes que estavam recebendo cuidados (veja abaixo).
Entre os deputados que participaram da fiscalização em Guarulhos nesta segunda-feira (15) estão o Coronel Telhada (PP) e Sargento Neri (Avante), apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), e o deputado Márcio Nakashima (PDT).
Os três fazem parte de uma frente na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) chamada de Parlamentares em Defesa do Orçamento (PDO).
De acordo com a prefeitura de Guarulhos, a fiscalização dos três parlamentares foi de surpresa tanto no Hospital Municipal de Urgências (HMU) como no Centro de Combate ao Coronavírus, o hospital de campanha da cidade, mas não houve invasão.
“A entrada foi permitida com o acompanhamento dos responsáveis pelas duas unidades”, disse a prefeitura de Guarulhos.
Após a visita ao hospital de campanha da Covid-19 na cidade, o deputado Sargento Neri (Avante) elogiou as 24 UTIs para coronavírus da unidade e criticou o governador João Doria e o prefeito de São Paulo, Bruno Covas.
“O prefeito Bruno Covas e o Governador João Doria precisam fazer um estágio aqui para aprender um pouquinho. Porque o hospital de campanha do Ibirapuera e do Anhembi não têm UTI. É uma das coisas que mais falei nos vídeos, poderia fazer essas UTIs nesses hospitais de campanha. E aqui é prova disso. Tem 24 UTIs funcionando, com equipamentos e medicamentos. Então, Bruno Covas e João Doria, fake news é a administração de vocês, é o que vocês fizeram no Anhembi e no Ibirapuera”, disse o parlamentar.
Guarulhos é a segunda maior cidade do estado e chegou a ter 100% dos leitos de UTI ocupados no início do mês. Os leitos de enfermaria também já atingiram capacidade máxima.
Doria rebate deputados
Durante a coletiva desta segunda (15), o governador João Doria (PSDB) voltou a fazer críticas aos deputados que invadiram o hospital de campanha do Anhembi no último dia 4. Na ocasião, segundo a Prefeitura de São Paulo, os parlamentares intimidaram verbalmente trabalhadores e pacientes, além de ignorar medidas de vigilância sanitárias, de acordo com relato dos funcionários.
“Lamentavelmente, também uma figura da republica incitou outras invasões. Quero dizer que invadir é crime e agredir é crime. Se houver qualquer outra tentativa de invasão de hospitais públicos municipais ou estaduais, sejam eles de campanha ou sejam eles de qualquer outra natureza, em São Paulo, a segurança pública, sob a liderança do General Campos que aqui está, saberá agir e também faremos a criminalização desses invasores, sejam parlamentares ou não. A condição de parlamentar não dá livre acesso e não dá a um parlamentar a condição de desrespeitar a lei, desrespeitar a doença e desrespeitar a medicina. Um mandato não significa impunidade. Se voltarem a tentar invadir, receberão o tratamento adequado como invasores e, repito, inclusive criminalmente”, afirmou Doria.
O governador de São Paulo retomou o assunto após o procurador-Geral da República, Augusto Aras, pedir aos chefes dos Ministérios Públicos estaduais que abram investigação sobre casos de invasão a hospitais e ofensas contra profissionais de saúde.
Na semana passada, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) incentivou durante uma transmissão na internet que pessoas a entrarem em hospitais públicos ou de campanha que tratam pacientes de coronavírus para filmar as instalações.
Ameaças ao STF
Doria também usou a coletiva desta segunda-feira (15) para condenar os disparos de fogos de artificio em direção ao prédio do Supremo Tribunal Federal, em Brasília, na noite deste sábado (13). A ação foi protagonizada por um grupo de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro.
“O Brasil não vai virar uma Venezuela, nem Bielorrússia ou Cuba, nem ditadura fascista, nem ditadura proletária. A maioria dos brasileiros quer a democracia e a maioria saberá democraticamente derrotar os extremistas”, disse o governador de SP.
Hospital do Anhembi
O hospital do Anhembi foi montado pela Prefeitura de SP e é gerenciado por duas organizações sociais de saúde. Uma delas é o IABAS, instituto investigado no Rio e em São Paulo por problemas na gestão de unidades de saúde e hospitais de campanha para Covid-19.
O Hospital de Campanha montado no Centro de Exposições no Anhembi, na Zona Norte de São Paulo, é administrado por duas organizações sociais: a Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina (SPDM) e o IABAS, investigada por irregularidades em outros contratos de administração de hospitais no Rio de Janeiro e São Paulo.
Na capital paulista, o IABAS é alvo de dois processos no Tribunal de Contas do Município e da Controladoria-Geral da prefeitura. Os inquéritos correm simultaneamente e apuram supostas irregularidades em contratos municipais de saúde. Segundo o TCM, os processos no órgão estão em fase final de apuração.
No Rio de Janeiro, a Organização Social foi contratada de forma emergencial pelo governo do estado para construir e administrar sete hospitais de campanha, em um contrato no valor de R$ 835 milhões cercado de irregularidades, segundo investigadores da Polícia Federal. No dia 26 de maio, o instituto foi alvo da operação Placebo, que apura justamente as irregularidades nesses contratos.
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