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Economia

Diretor financeiro da Caixa leva cultura de empresa privada para a estatal

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Com passagem por instituições como Goldman Sachs e UBS, André Laloni chega a trabalhar 16 horas por dia para tocar negócios além das tarefas financeiras

André Laloni: diretor financeiro da Caixa tem a missão de dar ritmo bem mais rápido ao programa de desinvestimentos do banco (Peter Nicholls/Reuters)

São Paulo — O veterano executivo de bancos de investimento André Laloni, que fez carreira em bancos como Goldman Sachs e UBS, parecia uma escolha improvável para a diretoria financeira da Caixa Econômica Federal, mais conhecida pelas linhas de crédito imobiliário. Mas quatro meses depois de sua nomeação, o executivo de 46 anos tornou a Caixa onipresente na avenida Faria Lima, epicentro dos grandes negócios fechados pelos bancos de investimento no país.

A Caixa está tomando a dianteira entre os bancos estatais, sob forte pressão para vender ativos e devolver recursos ao governo federal, imprimindo um ritmo bem mais rápido ao seu programa de desinvestimentos do que o Banco do Brasile o banco de desenvolvimento BNDES.

Laloni está tocando vários negócios ao mesmo tempo, entre ofertas subsequentes de ações em empresas onde a Caixa ou fundos que o banco administra têm participações, IPOs e vendas de participações ou parcerias em suas subsidiárias, enquanto tenta criar uma subsidiária que se chamará Caixa BI.

Laloni assumiu seu primeiro cargo público animado com a oportunidade de deixar mudanças duradouras na redução do tamanho do Estado e da burocracia. “Nós sabemos que estamos aqui por um período limitado de tempo, mas o que nos atraiu foi a ideia de deixar um legado”, disse Laloni durante uma entrevista à Reuters em São Paulo.

Para tocar seus negócios além das tarefas de diretor financeiro, Laloni chega a trabalhar 16 horas por dia e quase todos os fins de semana. Alguns funcionários que foram transferidos para a divisão de banco de investimento e que não estavam acostumados a longas jornadas pediram para sair, segundo Laloni, mas ele avalia que as equipes que vieram de fora e recrutadas dentro da Caixa não têm tido choques culturais.

Até agora, Laloni supervisionou ofertas que arrecadaram cerca de 10 bilhões de reais, incluindo as participações no ressegurador IRB Brasil e na Petrobras . As duas operações equivaleram a 37% de todas as ofertas de ações no Brasil, o maior mercado de ações da América Latina, no período, segundo dados da Refinitiv.

O futuro da Caixa

Laloni espera que o volume total atinja 15 bilhões de reais até o final de julho, com as vendas adicionais de participações no Banco do Brasil e na empresa de energia Alupar.

No segundo semestre, Laloni, que tem um MBA da Universidade de Virginia, nos Estados Unidos, espera focar na criação de joint ventures e assinatura de acordos comerciais pela Caixa Seguridade, preparando a divisão para um IPO. Essas transações dobrariam o total movimentado para 30 bilhões de reais até o fim do ano, estima Laloni.

Algumas das ofertas de ações estão sendo vendidas pela Caixa aos clientes de suas mais de 4 mil agências, como ocorreu com a oferta da Petrobras.

A onda de desinvestimentos dará à Caixa pela primeira vez na história um lugar nos rankings de operações de banco de investimento. Logo após a oferta da Petrobras, a Caixa chegou ao quinto lugar no ranking de equities da Refinitiv.

A Caixa usará o total arrecadado para pagar empréstimos com o Tesouro Nacional. O novo time reunido por Laloni tem 30 pessoas, das quais cinco vieram do setor privado, incluindo do Barclays, onde ele trabalhou por seis anos, e os outros 25 são funcionários de carreira da Caixa.

Depois de começar a carreira no banco UBS em Nova York, Laloni trabalhou no Itaú Unibanco, no Goldman Sachs e no Barclays em São Paulo. O UBS o contratou para liderar a área de banco de investimento no Brasil e Cone Sul, mas ele deixou o cargo em 2016 “por decisão mútua”, segundo um comunicado do banco na época.

O convite para a diretoria financeira da Caixa veio do presidente do banco, Pedro Guimarães, em meio à estratégia do presidente Jair Bolsonaro de mudar totalmente a gestão dos bancos estatais. Laloni já tinha um bom relacionamento com Guimarães, depois de ter trabalhado com ele em alguns negócios. A ideia de levar o conhecimento do setor privado para a Caixa o entusiasmou.

Embora não haja planos para listar a Caixa no mercado, o banco vem divulgando balanços como se fosse uma empresa listada. “Quero que a Caixa seja transparente, teremos subsidiárias listadas”, disse Laloni.

A médio prazo, a Caixa também considera vender sua participação no Banco Pane propor aos sócios IPOs de empresas onde o fundo FI-FGTS, administrado pela Caixa, têm participações, como a empresa de saneamento Brookfield Ambiental e a de logística VLI.

Laloni também espera que a Caixa ajude o Ministério da Economia a desenhar outras privatizações de empresas estatais nos próximos anos. Mesmo quando a venda de ativos estatais se reduzir, ele vê uma oportunidade de oferecer a empresas médias serviços como venda de debêntures ou outras operações de mercado de capitais.

“Mudar a cultura de um país nunca é fácil”, disse Laloni a uma plateia de investidores institucionais durante um evento do road-show da oferta da Petrobras em Nova York, no qual respondeu perguntas sobre o andamento da reforma da Previdência e defendeu a agenda de desestatização do ministro da Economia, Paulo Guedes. “Estamos muito focados e avançando rápido.”

 

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