Conecte Conosco

Brasil

Doria e França se distanciam de Alckmin, mas repetem suas promessas

Publicado

em

Ao longo da campanha, os dois candidatos ao governo de São Paulo reciclam uma série de promessas já feitas pelo ex-governador tucano

França e Doria: os candidatos estão empatados tecnicamente para vencer no próximo domingo (Kelly Fuzaro/Band/Divulgação)

São Paulo – Os dois bem que tentam se descolar da imagem de Geraldo Alckmin, mas tanto o ex-prefeito João Doria (PSDB) como o atual governador Márcio França (PSB), que busca a reeleição, reciclaram uma série de promessas já feitas pelo ex-governador ao longo da atual campanha pelo governo de São Paulo.

Como ocorreu há quatro ou oito anos, o eleitor paulista, mais uma vez, ouve compromissos relacionados, por exemplo, à conclusão do Rodoanel e das linhas 4 e 5 do metrô. O que muda é o preço a se pagar por elas. Somadas, as contas de Doria e França ultrapassam R$ 30 bilhões só em obras.

A comparação das listas mostra que um eventual governo Doria investiria ao menos R$ 26,4 bilhões durante os próximos quatro anos, enquanto França aplicaria no mínimo R$ 19,3 bilhões – para se chegar à soma de R$ 30 bilhões, a reportagem.

O mesmo foi feito em relação a despesas com manutenção e contratação de pessoal. Com elas, o valor seria até três vezes maior, já que o custeio de um equipamento público vale, por ano, o mesmo investido em sua construção.

A regra é usada para hospitais, creches e linhas de metrô, desde que administradas pelo Estado. A reportagem também não considerou propostas genéricas, como despoluir os Rios Pinheiros e Tietê, promover integração entre secretarias e valorizar financeiramente os servidores – Doria e França já se comprometeram a dar aumento a policiais e professores.

Neste contexto, ambos os candidatos teriam dificuldades para encaixar suas promessas no orçamento do Estado. Nos últimos quatro anos, a gestão Alckmin investiu cerca de R$ 40 bilhões e não conseguiu terminar parte das obras agora novamente prometidas pelos candidatos, especialmente as ações na área de transportes rodoviário e público. O mesmo atraso ocorreu com a promessa de entregar mil creches em quatro anos – só 300 ficaram prontas desde 2015.

Especialista em Direito Administrativo, Adib Kassouf Saad considera a legislação eleitoral falha no sentido de não impedir que políticos em campanha prometam programas e serviços que não possam ser cumpridos em função da Lei de Responsabilidade Fiscal. “Sabe como isso se chama? Estelionato político. Os planos de governo aceitam tudo, mas a prática é outra”, afirma Saad.

Empatados tecnicamente segundo pesquisa Ibope/Estado/TV Globo divulgada no dia 17, com 52% e 48% das intenções de voto, respectivamente, Doria e França prometem ampliar a rede paulista de hospitais e a malha rodoviária, mais vagas em ensino a distância, base comunitárias da polícia e delegacias da mulher, entre outros serviços.

Palanque duplo

Considerados aliados de Alckmin até o início da campanha, nenhum dos dois candidatos fez uma defesa do legado de 13 anos do ex-governador à frente do Estado. A seis dias do segundo turno das eleições, a disputa pelo Palácio dos Bandeirantes tem se baseado principalmente em ataques mútuos nos comerciais e debates de TV.

Doria abandonou o padrinho político já no final do primeiro turno e passou a estimular o voto no presidenciável Jair Bolsonaro (PSL), hoje sua principal estratégia de campanha contra França. O atual governador, por sua vez, prega o discurso da “mudança” e aposta todas as fichas na rejeição do ex-prefeito na capital, após ele descumprir a promessa de permanecer no cargo por quatro anos.

Para o cientista político José Alvaro Moisés, da USP, houve pouca ênfase durante a campanha para propostas caras ao eleitorado paulista.

“Era preciso um plano muito mais proponente e incisivo para poder assegurar melhoria na mobilidade urbana, por exemplo, que São Paulo tanto precisa. Algo muito mais elaborado do que isso”, afirmou o analista, em referência ao repeteco de promessas.

Neste domingo, 21, França prometeu moradia popular no centro da capital paulista. “O governo vai comprar apartamentos já reformados e pagar em torno de R$ 120 mil cada. Dá para fazer 10 mil unidades por ano”, disse.

Doria esteve em ato pró-Bolsonaro na Avenida Paulista. Em discurso, além de pedir voto para o presidenciável do PSL, ele voltou a ligar França ao PT e à esquerda.

A campanha de França afirmou que a “filosofia” do candidato é terminar as obras em andamento – são cerca de 700 – e aprimorar a qualidade do serviço público, o que explica o repeteco de promessas. A assessoria de Doria disse que “alguns compromissos firmados por gestões anteriores, como a conclusão das obras do Rodoanel, foram apoiados por todos os candidatos pois são demandas da população”.

“Já a expansão de Baeps e Deics regionais são propostas de João Doria originadas nos debates dos grupos de trabalho da campanha, criados para debater as necessidades da população e formular soluções.”

Planos similares

Classificado pelo ex-prefeito João Doria como “esquerdista”, o atual governador e candidato à reeleição Márcio França tem praticamente a mesma solução para os problemas do Estado que o tucano defende. Uma análise dos planos, discursos e projetos apresentados por ambos ao longo da campanha mostra que há dezenas de promessas semelhantes e até iguais.

As coincidências estão em praticamente todas as áreas estratégicas, como Segurança Pública, Habitação, Saúde, Educação e Transportes. Nessa última, os programas se confundem.

Doria e França prometem, por exemplo, prolongar a Rodovia Carvalho Pinto até a cidade de Aparecida, concluir o Rodoanel, iniciar um trem intercidades que conecte São Paulo aos municípios de Campinas e Americana, no interior, e ainda fazer a Linha 18-Bronze do metrô, na direção do ABC Paulista.

Na área de Habitação, mais sinais de afinidade entre os adversários. Ambos prometem ampliar a oferta de moradia por meio do fortalecimento de órgãos da atual gestão – a agência Casa Paulista e a Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU).

Os programas de Doria e França também propõem parcerias com o setor privado e com municípios para ampliar a oferta de moradia popular, além de ações para promover regularização fundiária e reurbanização de favelas.

Da mesma forma, os candidatos exaltam programas que se tornaram bandeiras dos governos tucanos no Estado – a promessa de ampliar o “padrão de atendimento do Poupatempo” para outras áreas do governo, por exemplo, é idêntica nos dois planos.

No caso de Doria, muitas das propostas não foram incluídas no plano de governo, mas apresentadas nas redes sociais e por meio de entrevistas concedidas ao longo da campanha.

Ao menos 37 delas foram divulgadas pela internet, e a maioria não consta no documento apresentado à Justiça Eleitoral – fazer a semiblindagem de 8 mil viaturas da PM é um dos exemplos.

França segue o mesmo padrão. No decorrer da campanha, o candidato passou a divulgar propostas que não incluiu em seu plano de governo, especialmente quando passou ao segundo turno, como instalar elevadores em prédios da CDHU com até sete andares e contratar cem policiais para a Rota.

Mas, se o conteúdo é semelhante, ao menos em um ponto os candidatos se diferem: o plano de governo de Doria tem 21 páginas e o de França, 68. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Clique aqui para comentar

Você precisa estar logado para postar um comentário Login

Deixe um Comentário

Copyright © 2024 - Todos os Direitos Reservados