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Mercado conta com PIB entre 0,8% e 1%
Não deve haver nenhum obstáculo visível na pista para o aumento da velocidade da taxa básica de juros. A via parece desimpedida e sem buracos, caso contrário o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, não seria tão enfático na sinalização de uma alta de 0,50 ponto no Copom de quarta-feira. Ele já deve ter sido informado, em descontraídas conversas telefônicas, que o PIB apresentou evolução satisfatória no primeiro trimestre, algo entre 0,8% e 1%.
O IBGE divulga oficialmente o resultado do PIB trimestral na manhã de quarta-feira. Poucas horas depois, no início da noite, o Copom revela se a Selic, hoje em 7,5%, subirá para 7,75% ou 8%. A tempestiva vigilância monetária manifestada por Tombini sugere ao mercado futuro de juros da BM&F que o avanço do PIB estará mais perto de 1% do que de 0,8%.
Anualizado, esse crescimento trimestral indica uma expansão anual de 4%. É muita coisa, considerando-se que as instituições pesquisadas pelo BC para a confecção do boletim semanal Focus reduziram, na amostra divulgada ontem, a expectativa de alta do PIB em 2013 de 2,98% para 2,93%. Para que o PIB acumule 2,93% este ano, precisa crescer pelo menos0,73% acadatrimestre. Mas se a alta do PIB de janeiro a março foi inferior a 0,8%, Tombini e o Copom estarão em maus lençóis. Tombini passará ao mercado a incômoda sensação de estar mal informado e de que, sem elementos consistentes para justificar seus discursos enérgicos, pretende operar a política monetária mais por meio de falas enfáticas do que por atos efetivos. De sua parte, o Copom terá poucos argumentos para justificar, diante das prioridades econômicas e políticas do Planalto, uma intensificação do aperto monetário.
O pregão de juros futuros da BM&F não se deixou ontem influenciar pela opinião dos analistas ouvidos pelo Focus. Os economistas das instituições sustentam que o Copom manterá nessa reunião de maio o diapasão de 0,25 ponto utilizado para descongelar a Selic no encontro do mês passado. Pela sexta semana consecutiva, no boletim de ontem continuaram projetando taxa de 7,75% no final do mês. Já o mercado de DI futuro persistiu ajustando as projeções para cima. A taxa implícita no contrato mais negociado, com vencimento em junho, avançou de 7,308% para 7,315%.
Sem os seus principais mercados de referência externa – tanto Nova York quanto Londres não operaram por causa de feriados -, a Bovespa não teve fôlego nem disposição para exibir conduta autos-suficiente. Com modesto volume de R$ 2,53 bilhões – o menor desde 26 de dezembro de 2011 – , fechou em baixa de 0,02%, a 56.395,94 pontos. Não há sinais de mudança no comportamento do investidor que é o fiel da balança da Bovespa. O investidor estrangeiro está bem desanimado com o Brasil. Nesses primeiros cinco meses do ano prevalece o sentimento de que o país patina: baixo crescimento, inflação alta, investimento insuficiente para as necessidades, rebelião empresarial contra o excesso de intervenções governamentais e frouxidão fiscal. Responsável hoje por 43,2% do volume negociado na Bolsa, o aplicador externo vem a cada novo mês investindo menos. Em janeiro, o saldo do investimento externo foi de R$ 4,58 bilhões, caiu para R$ 2,37 bilhões em fevereiro, para R$ 1,69 bilhão em março e para R$ 920,7 milhões em abril. Até o dia 23 de maio, a aplicação atinge irrisórios R$ 45,1 milhões.
Se o capital estrangeiro estivesse na posição de compra, menos pior. Acontece que o investidor de fora manifesta seu desagrado com os rumos da política econômica de uma forma coerente, posicionando-se justamente no lado da venda. Pela última posição conhecida, relativa ao pregão do dia 24, os estrangeiros estão “vendidos” em Ibovespa futuro – ou seja, eles ganham se a Bolsa cair à vista -em 142.883 contratos, o equivalente a um pouco mais de R$ 8 bilhões. Do ponto de vista da operação, trata-se de posição muito atilada e lucrativa, afinal o índice Bovespa desvalorizou-se em todos os meses de 2013. A baixa foi de 1,95% em janeiro, 3,91% em fevereiro, 1,87% em março e 0,78% em abril. Em maio, até ontem, a Bovespa acumula avanço de 0,87%. A pergunta que não quer calar: os estrangeiros estão “vendidos” porque a Bolsa está caindo ou ela está em baixa porque os investidores externos estão “vendidos”?
No mercado de câmbio, o dólar permaneceu ontem acima do preço de R$ 2,05 que, ainda supõe o mercado, seja o teto da banda informal de flutuação do câmbio. O Banco Central tende a agir, por meio da colocação de contratos de swaps cambiais, para defender um patamar de taxa de câmbio que seja favorável ao controle da inflação. E o mercado acredita que esses R$ 2,50 são o divisor de águas. Mas ontem, sem inibidores oficiais, o dólar subiu mais um pouco. Fechou cotado a R$ 2,056, com avanço de 0,15%. E nada de o BC aparecer com seus leilões de swaps. As razões do sumiço são que até a semana que vem o mercado será irrigado por cerca de US$ 9 bilhões. A maior parte virá da captação externa feita dia 13 pela Petrobras. Do total arrecadado de US$ 11 bilhões, cerca de US$ 6 bilhões devem ficar lá fora para pagamento de compromissos externos da estatal. Mas US$ 5 bilhões ingressarão no país via mercado de câmbio.
Outros US$ 4 bilhões aportarão sob a forma de títulos cambiais. Trata-se do valor das 3,59 milhões de NTN-Série A3, pertencentes à carteira do extinto Banco Econômico, que irão à leilão no dia 4 de junho. Esses ingressos devem permitir um recuo das cotações. É nisso que apostam os grandes investidores “vendidos” nos pregões de derivativos cambiais da BM&F. Apesar de a moeda americana ter subido 2,28% nos últimos 11 pregões, cresceram as posições vendidas tanto dos investidores estrangeiros quanto dos bancos nacionais. Pela posição do dia 24, os dois grupos de participantes carregavam saldo líquido de US$ 16,54 bilhões negativos, sendo US$ 9,77 bilhões por parte dos bancos e US$ 6,77 bilhões pelos estrangeiros. No dia 21, a posição era “vendida” emUS$16,3 bilhões e no final de abril em US$ 15,93 bilhões.