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Ministério da Saúde debate criação de memorial da covid

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Quatro anos após decretação da pandemia pela OMS, pasta defende que crise não seja esquecida. Para a ministra Nísia Trindade, a doença ainda não foi completamente superada

Para lembrar os quatro anos da decretação, pela Organização Mundial da Saúde (OMS), da pandemia de covid-19, o Ministério da Saúde promove, desde ontem, um debate cujo objetivo é a criação do Memorial da Pandemia de Covid-19. A infecção matou aproximadamente 710 mil brasileiros e, segundo a ministra Nísia Trindade, a doença ainda é um problema de saúde pública não superado no Brasil.

“Ao falar de um memorial e de uma política de memória, não circunscrevemos a pandemia de covid-19 ao passado. A despeito de termos superado a emergência sanitária, não superamos a covid-19 como um problema de saúde pública”, lamentou.

Nísia salientou o papel da sociedade civil, que pressionou o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro a adotar medidas contra a doença e, sobretudo, a comprar a vacina que hoje é distribuída pelo Sistema Único de Saúde (SUS). “Aquilo que o governo não fez, a sociedade fez. Mostrou que nós podemos nos unir e fazer a diferença em benefício do país. Mas há limites que só uma ação de governo pode superar”, disse a ministra, que, à época, dirigia a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), cujos laboratórios fabricavam uma das vacinas aplicadas contra a covid-19.

Rui Curi, vice-diretor do Instituto Butantan — que também fabricou o imunizante contra o coronavírus ao longo da pandemia —, lembrou que, em 2018, a instituição fez uma campanha sobre a gripe espanhola, em 1918. Isso, segundo ele, serviu de aprendizado para enfrentar a crise sanitária de 2020.

“O que fez a diferença em 100 anos foi a ciência. Mas, tem um ponto muito interessante, porque, em 1918, se usava quinino para combater a gripe espanhola. Em 2020, usamos cloroquina, do mesmo grupo de substância do quinino. Usar o mesmo é ignorar o que a ciência faz”, alertou.

Para Antônio Barra Torres, presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), a memória é essencial para que esse período da história não seja menosprezado. “O memorial, seja ele qual for, entre tantas funções serve exatamente para que as gerações que não viveram aquilo que quem construiu o memorial viveu possam conhecer o que aconteceu. Para nós, não há dúvida do quão marcante foi, mas o tempo, às vezes, traz esquecimento para muitas coisas que não devem ser esquecidas”, alertou.

Barra Torres já estava à frente da Anvisa à época da pandemia e sofreu intensa pressão dos negacionistas — que acusavam a agência de aprovar um imunizante “experimental”, elaborado a toque de caixa. Ele foi duramente atacado por Bolsonaro e seus apoiadores e chegou até mesmo a emitir uma nota rebatendo o ex-presidente, que acusou os diretores da Anvisa de “terem interesse” por trás da imunização contra a covid-19.

Sobre a campanha de descrédito, Barra Torres afirmou que os canais de comunicação da agência receberam mais de 2 mil e-mails com ameaças aos servidores. “Não temos direito de dizer que a página foi virada. É hora do memorial, mas não é hora do relaxamento”, afirmou, lembrando que muitas pessoas ainda lidam com sequelas da doença.

“O governo anterior foi criminoso, se voltou contra a ciência. Quando assumimos o ministério, um dos primeiros compromissos foi substituir o negacionismo pela ciência”, criticou o secretário-executivo da pasta, Swedenberger Barbosa.

Curi ressalta que o Butantan encontrou na educação e na cultura a maneira de manter a conscientização da população sobre as vacinas, que ainda hoje são alvo de fake news. “O Museu da Vacina tem o compromisso de ensinar ciência sobre vacinas de uma forma bastante simples. A única maneira de combater a mentira científica é a verdade científica, a educação”, explicou.

Os senadores Randolfe Rodrigues (sem partido-AP) e Humberto Costa (PE-PT), ex-integrantes da CPI da Covid, participaram do seminário e criticaram a omissão de agentes públicos. De maneira simbólica, entregaram para Nísia o relatório com as conclusões da comissão Parlamentar de Investigação. E afirmaram ainda que devem recorrer ao procurador-geral da República, Paulo Gonet, esta semana, para pedir a retomada das investigações — arquivadas na gestão do ex-procurador Augusto Aras. 

Correio Braziliense

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