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Mudança climática e a necessidade de diálogo intergeracional

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As mudanças climáticas ja forcaram os países a se unirem em um esforço climático global, por meio do Acordo de Paris, e, agora, pressionam os governantes a envolverem as novas gerações nas decisores tomadas

stamos planejando o futuro olhando para o retrovisor. A crise climática gerou uma nova situação para toda a humanidade que não poderá ser resolvida com soluções antigas. Mesmo após diversas conferências sobre o clima, desde a Eco 92 até a COP30, que será realizada no Brasil neste ano, os países tendem a concordar que são necessárias ações urgentes para combater a mudança climática e definem metas de redução da emissão de gases de efeito estufa, mas, na prática, o problema apenas se agrava. Por que isso ocorre?

A incoerência entre o discurso de transição energética e a efetiva ação repousa no modelo tradicional baseado em crescimento econômico. Apesar de os países concordarem que reduzir, reutilizar e reciclar são aspectos fundamentais, na prática tal atitude desacelera a economia. Logo, não é colocada em prática de forma efetiva.

O paradigma dos governantes mundiais, tanto os atuais quanto os das últimas décadas, visa estimular o consumo como forma de gerar mais empregos, o que é um raciocínio válido. Porém, não leva em consideração o impacto ao meio ambiente. Você é estimulado a consumir, descartar e, então, consumir novamente. Caso um equipamento quebre, é melhor descartá-lo e comprar um novo do que consertá-lo.

Os atuais governantes mundiais são, em sua maioria, da terceira idade. Eles cresceram em uma época em que os efeitos das mudanças climáticas ainda não eram claramente conhecidos, e os primeiros indícios de que problemas viriam eram previstos apenas para serem sentidos por gerações bem distantes. Esse raciocínio, apesar de completamente desatualizado, ainda é reinante na forma como as decisões são tomadas.

Considere a transição energética e a situação brasileira. Para termos mais veículos elétricos (evitando a queima de gasolina), fogões elétricos (evitando a queima de gás) e até mesmo grandes obras de infraestrutura, como estações de tratamento de esgoto para milhares de municípios que não têm saneamento básico, será necessário um aumento considerável da geração de eletricidade no país. Com a inviabilidade de construção de novas usinas hidrelétricas de grande porte, devido ao impacto ambiental e social, a resposta padrão é garantir a segurança energética por meio da exploração de petróleo na Margem Equatorial e ingressar no fórum OPEP . A narrativa tradicional afirma que precisamos explorar os combustíveis fósseis para garantir a transição energética, por mais incoerente que esse raciocínio seja.

As novas gerações de brasileiros, entretanto, têm uma consciência ambiental muito mais aflorada. Eles cresceram ouvindo falar das mudanças climáticas, estudaram na escola formas de economizar energia e, agora, estão sentindo na pele os efeitos das ondas de calor que assolam o país. A moderação ganha muito mais valor para essas pessoas do que o estímulo ao consumismo desenfreado dos atuais governantes. O lema “lucro acima de tudo” não tem eco entre elas.

Para vencer essas dicotomias, a economia, como a conhecemos, precisa se reinventar. Na verdade, precisa circular. Um exemplo bem próximo dos consumidores é a importância da reciclagem, que gera um promissor mercado com receita e novos empregos, além de reduzir o lixo produzido pelas cidades. A coleta seletiva e os processos de triagem do lixo devem ser estimulados e aprimorados. Produtos reciclados devem ganhar mais espaço na economia do que produtos que utilizam matéria-prima nova em sua fabricação.

Para além do Brasil, a mudança climática é um desafio de proporções que exigem uma revisão da forma como a sociedade está estruturada. Quando a nova geração, com maior consciência ambiental, estiver em cargos que permitam tomada de grandes decisões, com certeza, não repetirá o modelo das últimas décadas, em que, para ter crescimento, era necessário sacrificar o meio ambiente. Até porque isso se apresentará como única saída.

E, por meio de soluções criativas e inovadoras, como aproveitamento dos gases emitidos em lixões e estações de tratamento de esgoto para gerar eletricidade e até aproveitamento do potencial oceânico do litoral brasileiro para gerar eletricidade limpa, a nova geração, intuitivamente, lembrará das ondas de calor que vivenciou, das chuvas torrenciais que alagaram centenas de cidades, da seca que tornou o ar difícil de respirar por vários dias, e manterá o rumo para equilibrar economia e meio ambiente.

Mas não podemos esperar tanto! As mudanças climáticas já forçaram os países a se unirem em um esforço climático global, por meio do Acordo de Paris, e, agora, pressionam os governantes a envolverem as novas gerações nas decisões tomadas. Essas são mudanças notáveis, que impulsionam a humanidade para um novo estágio de maturidade, necessário para lidar com a crise climática. Sábios os governos que ouvem e incorporam os anseios, as ideias criativas e as preocupações das novas gerações.

Correio Braziliense

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