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Protestos confrontam EUA com velha mazela

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Os protestos do lado de fora da Casa Branca atravessaram a noite. Por volta da 1h da manhã desta segunda-feira (01/06), helicópteros e fogos de artifício ainda podiam ser ouvidos em uma ampla área ao redor da sede do governo em Washington. Foi a terceira noite em que centenas de manifestantes marcharam ali para protestar contra a violência policial e o racismo.

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Os protestos em Washington foram parte da agitação nacional que irrompeu após a morte de George Floyd, em Minneapolis. O afro-americano de 46 anos morreu em 25 de maio depois que um policial se ajoelhou no pescoço dele por mais de oito minutos, ignorando seus gritos de “Eu não consigo respirar.” O motivo: Floyd estava prestes a pagar em um supermercado com uma nota supostamente falsa de 20 dólares.

A morte de Floyd faz lembrar o caso de Eric Garner. O também afro-americano morreu em dezembro de 2014, depois que um policial o estrangulou por trás, enquanto o prendia. Antes de morrer deitado no chão, Garner também gritou desesperadamente várias vezes “Eu não consigo respirar!” Estes casos são apenas dois exemplos de uma longa lista de negros americanos desarmados mortos por policiais brancos.

“A força motriz por trás dos protestos é a frustração das pessoas”, diz Bryant Marks, professor de psicologia do Morehouse College, a tradicional universidade que Martin Luther King frequentou. “Eles se sentem sem esperança e desamparados. E muitos policiais e outros membros da nossa sociedade não entendem isso”.

Marks também diz que o presidente dos EUA, Donald Trump, não está exatamente ajudando a promover o entendimento entre afro-americanos e a polícia. Trump já se referiu aos participantes dos protestos como “thugs”, um termo pejorativo para criminosos que é usado quase que exclusivamente para homens negros.

O presidente chegou a expressar simpatia pela família de Floyd, mas Marks não está convencido. “Você só ouve palavras de compaixão do presidente quando ele as lê”, diz o professor de psicologia. “Quando ele fala abertamente ou com os seus tuítes é que se vê quem ele é de verdade “.

Trump tem sido criticado por vários lados. Seu comportamento, afirmou o provável candidato democrata à presidência, Joe Biden, é uma forma de dar oxigênio ao fanatismo. “Se ficarmos em silêncio, seremos cúmplices na perpetuação desses ciclos de violência”, disse Biden no Twitter.

Os negros não estão apenas em pior situação que os brancos nos EUA quando se trata de estatísticas sobre a brutalidade policial. Em média, eles também têm mais problemas de saúde e menos acesso a bons cuidados médicos.

Uma consequência: na pandemia de coronavírus, significativamente mais afro-americanos que brancos morreram nos EUA até agora – cerca de 23% de todas as fatalidades são na comunidade negra, mas os afro-americanos constituem apenas cerca de 13% da população dos EUA.

“Temos desigualdades preocupantes na saúde nos EUA”, diz Ashwin Vasan, professor de medicina na Universidade de Columbia e médico no Hospital Presbiteriano de Nova York. “O vírus está agora exacerbando essas desigualdades que existem há séculos”, afirma. O assassinato de George Floyd teria, assim, tocado mais a população que perdeu mais amigos e familiares para o coronavírus nos últimos meses.

Mas poderiam os manifestantes que agora saem às ruas contra o racismo fazer alguma coisa para mudar as injustiças centenárias em seu país? Marks acredita que é possível, se os protestos continuarem um pouco mais e se a questão permanecer na mídia. As manifestações poderiam, assim, levar a propostas legislativas sobre o comportamento policial e o controle de autoridades em alguns estados. Tais medidas poderiam ser submetidas à votação já nas eleições de novembro deste ano.

Mas ele também diz que não basta a polícia seguir regras mais rígidas e se submeter a treinamentos. Os preconceitos, especialmente contra os jovens negros, estão espalhados por todo o país, diz ele. “Se realmente quisermos lidar com essa situação”, afirma Marks, “a sociedade como um todo terá que mudar”.

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