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Economia

Queda de 1,7% da indústria no 1º tri mostra futuro preocupante ao setor

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Recuo na atividade industrial foi afetado pela queda em todo o país em março, a partir do avanço da pandemia; produção já vinha de recuo em 2019

Setor automotivo recuou 28% em março na comparação com o mês anterior Ramon Bitencourt/O Tempo/Estadão Conteúdo.

A lentidão da retomada econômica somada aos efeitos iniciais do coronavírus fez com que a produção industrial caísse 1,7% no primeiro trimestre deste ano. O tombo deve ser ainda maior a partir de abril, quando os efeitos restritivos da pandemia de Covid-19 afetaram o mês inteiro de produção, refletindo num ritmo ainda mais lento dentro de uma economia que lutava para retomar a produtividade. A queda registrada no primeiro trimestre deste ano, intensifica o tombo da indústria, que havia recuado 0,5% no quarto trimestre de 2019. Em março, a queda no país foi de 9,1% na produção industrial. Os dados foram divulgados nesta quinta-feira, 14, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

“Os dados de março são efeitos diretos do isolamento social que afetou o processo de produção no Brasil”, explica o analista da pesquisa, Bernardo Almeida. Segundo o analista, essa foi a primeira queda generalizada em todos os locais de pesquisa desde 2008, por consequência da crise financeira global. A época, a pesquisa contemplava 14 localidades do país e, desde 2012, passou a ter 15, com a entrada do Mato Grosso. Neste novo formato, é inédita a queda da atividade industrial em todos os locais pesquisados. Durante a greve dos caminhoneiros, em maio de 2018, a atividade industrial recuou em 14 dos 15 locais.

Grande parte do tombo registrado em março se deve a São Paulo. O estado que concentra 34% da produção industrial teve recuo de 5,4% na atividade. O estado é o mais afetado pela Covid-19 no Brasil. Dos 188.974 casos confirmados no Brasil, 51.097 são em São Paulo. O estado registra também o maior número de mortes: 4.118. As medidas de isolamento social no estado começaram a valer em meados de março, com o fechamento do comércio e serviços não essenciais, como shoppings centers. Com o recuo no consumo, há recuo na produção. Os setores de vestuário (-37,8%) e calçados (-31,5%) inclusive, registraram a maior queda dentre as 28 atividades industriais analisadas pelo instituto.

O tombo na atividade industrial em São Paulo já era dada antes das medidas de distanciamento social em São Paulo. Essa foi a segunda taxa negativa do estado consecutiva, acumulando em fevereiro e março perda de 6,6%. Duas atividades contribuíram fortemente para essa queda: veículos, um dos setores que mais atua no estado, e bebidas.

O recuo na indústria preocupa porque a cadeia é uma das grandes empregadoras do país. A queda da atividade gera preocupação no desmonte de cadeias produtivas, o que tornaria mais difícil a retomada econômica no período pós pandemia. A indústria automotiva, por exemplo, que apresentou queda de 28% na atividade em março em relação a fevereiro, lançou mão de férias coletivas e, posteriormente suspensão de contratos de trabalho e redução de salário para preservar postos de trabalho.

Também ajudaram a diminuir a média nacional os estados de Rio Grande do Sul e Santa Catarina, que apresentaram recuos de 20,1% e 17,9%, respectivamente. O Ceará, com -21,8%, foi o local que apresentou o maior recuo em termos absolutos, mas apenas o sétimo em termos de influência direta. Também o Pará (-12,8%), o Amazonas (-11%) e toda a Região Nordeste (-9,3%) apresentaram recuos mais intensos do que a média nacional. Já Pernambuco (-7,2%), Espírito Santo (-6,2%), Bahia (-5,0%), Paraná (-4,9%), Mato Grosso (-4,1%), Goiás (-2,8%), Rio de Janeiro (-1,3%) e Minas Gerais (-1,2%) tiveram índices negativos abaixo da média do país.

Queda na comparação anual

Na comparação com março de 2019, a indústria teve queda de 3,8%, sendo que 11 dos 15 locais pesquisados mostraram resultados negativos. “As consequências da pandemia do novo coronavírus ficam ainda mais claras nessa comparação, já que o chamado ‘efeito-calendário’ foi positivo em março de 2020, que teve 22 dias úteis, três a mais que 2019”, ressalta Bernardo. Novamente, São Paulo influencia bastante o resultado, com 4,2% de queda. No estado, houve recuo em 14 das 18 atividades. A taxa negativa foi puxada principalmente pela queda da produção de automóveis e outros equipamentos de transporte, como a produção de aviões.

Também contribuíram para o resultado negativo os estados de Santa Catarina (-15,6%), Espírito Santo (-14,2%), Rio Grande do Sul (-13,7%) e Ceará (-10,5%). Por outro lado, Rio de Janeiro (9,4%) e Bahia (5,8%) mostraram os avanços mais intensos na comparação de março de 2020 com março de 2019. No Rio de Janeiro, 10 das 14 atividades apresentaram crescimento. “O resultado no Rio de Janeiro foi impulsionado, em grande parte, pela alta nas atividades de indústrias extrativas (óleos brutos de petróleo e gás natural) e produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (óleos combustíveis, gás liquefeito de petróleo e naftas para petroquímica)”, enumera Bernardo.

Já na Bahia, os maiores impactos foram a alta nas atividades de coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis, além da taxa positiva de produtos alimentícios. Paraná (1,6%) e Pernambuco (1,4%) foram os demais estados com aumento de produção em comparação com março de 2019.

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