O mais dramático na história de Angela, criança que ficou conhecida no México como “a menina da maleta”, é que ninguém parece ter notado sua ausência. É como se ela jamais tivesse existido.
Desde março de 2015, quando seu corpo foi encontrado em uma rua de Cidade do México, as autoridades buscam familiares em todo o país.
Não apenas isso: distribuíram informações sobre seu perfil genético para todas as embaixadas no México e enviaram informações para representações nos EUA e na Europa.
O corpo da menina ficou no Instituto de Ciências Forenses, que durante um ano preservou o cadáver à espera de alguém que pudesse reconhecê-lo. Foi em vão, disse à BBC Mundo (o serviço em espanhol da BBC) o presidente do Tribunal Superior de Justiça de Cidade do México, Edgar Elias Azar.
Tortura
“Queríamos encontrar ao menos o fio da meada para descobrir o responsável por esse crime horrível. Decidimos conservar o corpo caso houvesse necessidade de alguma investigação especial. Mas, em todo o México, ninguém notificou o desaparecimento da menina e tampouco parece conhecê-la”, disse Azar.
A menina foi sepultada em um cemitério da capital depois de Azar decidir que, ao contrário do que ocorre com outros corpos não identificados, a menina não seria enterrada como indigente.
Mas o caso ainda não se encerrou. “Ela está sozinha em seu túmulo, mas não tenho dúvidas de que espera que encontremos o assassino. Outras crianças do mundo esperam que esses assassinos não caminhem pela rua. A pessoa que fez isso vai atacar de novo”, diz o magistrado.
Angela foi o nome que os médicos legistas deram à menina, cuja identidade permanece um mistério. O que se sabe apenas é que a menina, morta com menos de dois anos de idade, sofreu muito. Segundo Azar, ela foi torturada durante semanas, talvez meses.
Segundo os legistas, foi morta com um golpe na cabeça. E sofreu abuso sexual.
A única pista que a polícia tem é um vídeo mostrando um homem abandonando uma mala, em que estava o corpo da menina, em uma rua do bairro de Juárez. Mas a imagem não mostra o rosto do suspeito. “Estamos muito longe de resolver este caso, porque não temos nada”, admite Azar.
A Procuradoria Geral do Distrito Federal chegou a receber uma série de ligações e mensagens com informações falsas.
Nos 13 meses em que o corpo ficou no necrotério, as autoridades não encontraram coisa alguma que identificasse a menina. Os peritos creem que ela pode ter nascido no exterior e que sua mãe também possa estar morta.
“Suponho que ela também tenha sido privada de sua vida, porque nenhuma mãe permitiria que isso acontecesse com seu bebê. Não me parece racional que deixasse a filha sofrer daquela maneira”, diz Azar.
A única esperança das autoridades de identificar a criança e tentar encontrar os responsáveis por sua morte é a colaboração do público. Para as autoridades mexicanas, a distribuição do retrato falado da menina pelo mundo poderá ajudar, embora elas reconheçam que testemunhas possam temer represálias dos criminosos.
Por isso, Azar insiste que o Judiciário mexicano dará anonimato completo para informantes.
“Minha última esperança é que o público nos dê uma pista. Alguém que viu essa menina com sua mãe ou acompanhada de um adulto. Alguém que brincou com ela ou falou com ela”, insiste o magistrado.
“Mas se não há vozes na sociedade que nos digam quem é essa menina, ela vai permanecer anônima e com o nome de Angela. Descansando pela eternidade em uma cova”.
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