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Centro-Oeste

Cerrado supera Sul em produtividade do trigo graças ao manejo hídrico

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Pesquisadores da Embrapa Cerrados no DF identificam o momento ideal para iniciar a irrigação da lavoura e garantir maior aproveitamento hídrico, considerando a água armazenada no solo para a planta

Cerca de 90% do trigo brasileiro é produzido no Sul do país. No entanto, não é ali que se encontra a maior produtividade no cultivo do cereal. O crescimento da cultura no Centro-Oeste, com produção de grãos com alta qualidade para panificação industrial, fez com que o rendimento do trigo no Cerrado superasse o da região Sul — com médias de 4,5 quilos e 2,7 quilos por hectare, respectivamente.

Um dos fatores que impulsiona a produtividade do trigo do Cerrado é a irrigação, da qual o cultivo depende no inverno devido ao regime de chuvas na região. Nesse sentido, pesquisadores da Embrapa Cerrados (DF) definiram o momento ideal para iniciar a irrigação, a fim de utilizar a menor lâmina possível de água e manter a máxima produtividade da lavoura.

“As mudanças climáticas, principalmente as que afetam a disponibilidade hídrica, podem comprometer a produção de alimentos e a irrigação é uma das tecnologias que podem minimizar os efeitos da deficiência hídrica. No entanto, o seu uso deve ser feito com eficiência, produzindo o máximo com o mínimo possível de consumo de água”, alerta Jorge Antonini, pesquisador da Embrapa e um dos responsáveis pelo estudo, ao Correio.

Com isso em mente, os pesquisadores realizaram um estudo de dois anos, em que testaram qual seria o momento ideal de irrigar a plantação sem perder a produtividade. “Os estudos sugerem que as irrigações sejam realizadas sempre que a cultura tenha consumido 40% da água disponível do solo. Nestas condições, o trigo não sofrerá falta de água para o seu desenvolvimento e a quantidade de água a ser aplicada, em cada irrigação, é a necessária para reestabelecer, no solo, o que foi consumido pelo cultivo”, explica Antonini.

Para alcançar esses resultados, a pesquisa testou quatro situações em que as plantas usavam 20%, 40%, 60% e 80% da água disponível no solo antes de serem irrigadas. Segundo Antonini, com até 40% de esgotamento da água disponível no solo (CAD), a produtividade era mantida. No entanto, depois desse percentual, a produtividade do cultivo começou a cair. “Portanto, esse é o momento ideal para iniciar a irrigação”.

A pesquisa considerou a água disponível para a planta armazenada a 40 cm de profundidade, onde ficam concentradas cerca de 80% das raízes. Foi utilizada a BRS 394, cultivo de trigo da Embrapa que se destaca por seu alto potencial produtivo. A CAD da área experimental tem 55 milímetros de profundidade — então, considerando-se a taxa de 40%, a irrigação deve ser feita quando atinge 22 milímetros.

“Com essa informação, é possível acompanhar o esgotamento de 40% dessa água e estabelecer o momento de irrigação para uma CAD de seu solo. Toda vez que usar 40% desse reservatório, o produtor volta a irrigar”, completa Arthur Muller, também pesquisador da Embrapa.

De acordo com o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), a estimativa de trigo plantado no mundo na safra 2023/2024 é de 221,8 milhões de hectares, o que representa um aumento de 0,59% com relação à safra de 2022/2023. A organização ainda estima que serão plantados 800,1 milhões de toneladas, um incremento de 1,48%.

A expansão de áreas de cultivo e a maior produtividade da safra são motivos que colaboram para o aumento desses números. No Brasil, o Cerrado vem se destacando na produção, apesar de ainda ser mais tímida do que a do Sul.

“O trigo irrigado do Cerrado tem a melhor produtividade e qualidade industrial do país. Além disso, é produzido na entressafra, o que lhe confere maior preço no mercado. O potencial de área, no Cerrado, para o trigo irrigado é de 1,5 milhão de hectares”, aponta Antonini.

Segundo o pesquisador, há grande potencial a ser explorado na região. “A produção de trigo e de outras culturas, tanto irrigado como de sequeiro, tem grandes possibilidades de crescimento na produção na região dos Cerrados.”

Correio Braziliense

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