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Lojistas tentam driblar crise e buscam formas de sobreviver no mercado
Com a queda nas vendas de fim de ano, muitos lojistas ficaram com excesso de mercadoria nas prateleiras. Além de antecipar as liquidações, empresários têm reduzido ou buscado novas formas de aquisição dos produtos para a revenda
Uma máxima do varejo é a de que o estoque de mercadorias em uma loja está como o ar para os pulmões — se não tem, o lojista não consegue respirar; se tem demais, pode sufocar. Em tempos de crise econômica, essa frase ganha fôlego. A gestão do estoque torna-se essencial para otimizar gastos e reduzir prejuízos, alertam especialistas e associações representativas. Mercadoria encalhada é sinônimo de dinheiro parado. O mau desempenho do comércio durante o ano de 2015 deixou o varejo local com muito produto parado na prateleira. Para reduzir o excesso, uma das saídas encontradas foi antecipar as liquidações. Itens perecíveis e sazonais, como alimentação e vestuário, foram os primeiros. Alguns estabelecimentos anunciaram promoções já em 26 de dezembro, antes mesmo do fim das trocas dos presentes de Natal.
De acordo com o Sindicato do Comércio Varejista do Distrito Federal (Sindivarejista), das 30 mil lojas associadas à entidade, pelo menos 15 mil entraram em liquidação para reduzir estoque. Mas nem todas conseguiram. “O espaço de tempo entre uma liquidação e outra vem diminuindo cada dia mais. Os lojistas que colocaram as mercadorias com 60% a 70% de desconto venderam tudo. Porém, posturas mais conservadoras, com apenas 10% a 20% de decréscimo, ainda estão com mercadoria”, explica Edson de Castro, presidente do Sindivarejista-DF. Ele acrescenta que somente descontos atraentes levaram o consumidor às compras, uma vez que os gastos com material escolar e com impostos tiraram o dinheiro do mercado neste início de ano.
A preocupação com estoque excessivo ressalta o peso da crise econômica no comércio local. Nem mesmo as datas comemorativas, como o Natal e a Páscoa, animaram os empresários. No Natal de 2015, apenas 29,4% dos varejistas investiram no estoque. Em 2014, esse índice era de 54,3% — uma redução de, aproximadamente, 25 pontos percentuais. Para a Páscoa de 2016, com a baixa expectativa de crescimento nas vendas, apenas 17,9% dos entrevistados declaram que devem ampliar os estoques. Em 2015, o mesmo indicador era 30,2%. A maioria dos lojistas (53,2%) declarou que manterá o nível de estoque este ano. Os dados são das pesquisas realizadas pela Federação do Comércio do Distrito Federal (Fecomércio).
Diante do cenário de incerteza, muitos empresários estão revendo as suas práticas em relação ao estoque — alguns optaram por fracionar as compras com os fornecedores e, de mensais, elas viraram quinzenais. Outros optaram por comprar menos mercadoria, porém, com mais variedade. E há aqueles que decidiram vender por encomenda. A empresária Cristiane Moura, 46 anos, tem quatro lojas de roupas e faz a fabricação própria. Ela conta que precisou mexer na produção. Com estoque mais enxuto, teve que diminuir a quantidade de roupas produzidas por molde industrial. Se antes ela produzia 80 peças por molde, agora, são 60. “Estou trabalhando com um estoque menor, porém mais certeiro. Para a fábrica, diminuir a produção é ruim, mas para a loja é essencial”, comenta.
Nos cálculos de Cristiane, em dezembro, ela conseguiu equiparar as vendas do Natal às do ano anterior, o que considera uma vitória. Entretanto, em janeiro, o êxito não foi o mesmo e a redução chegou a 6%, mesmo com as liquidações. Para tentar manter as vendas e atrair as clientes, ela adiantou a coleção de inverno. “Desde o ano passado, venho controlando o meu estoque. Em tempos de crise, o empresário precisa ficar mais organizado e criativo.”
O empresário Francisco Sávio de Oliveira, 75, é proprietário de uma rede de lojas que comercializa utilidades, como brinquedos, itens do lar e presentes. Em sua experiência, afirma que, nos últimos 10 anos, não tinha visto uma crise como a que está ocorrendo. Para desovar o estoque parado, o empresário fez liquidação, desconto e promoção. Ele conta que, no Natal de 2015, vendeu 12% menos do que no do ano anterior. “O comerciante está mais agressivo. Eu estou optando por ter mais variedade, reduzir a margem de lucro e conseguir sobreviver.” O empresário comenta que passou a pesquisar mais fornecedores para ter um estoque variado e com chances de não ficar parado na prateleira. “Antes, o departamento comercial recebia vendedores durante dois, três dias da semana. Agora, recebe todo dia, em busca de preço mais competitivo. Além disso, estamos viajando pelo Brasil para trazer novidades.”
O consultor de Estoque do Sebrae- DF, Luciano Carvalho Discacciati, orienta que, em tempos de incerteza, otimizar o estoque é essencial para manter a empresa saudável. Para ele, o empresário precisa encontrar o ponto de equilíbrio. “As empresas não têm hábito de fazer o inventário do estoque. Muita gente fica no achismo. Estoque é dinheiro, precisa estar bem administrado”, analisa. “Ter essas informações vai permitir que o empresário tenha um controle de entrada e saída dos produtos. Vai servir também para ele montar um histórico do que mais sai, do que mais fica, do giro, da margem de venda. Ele vai saber ainda qual fornecedor demora mais e, portanto, o pedido precisa ser feito com antecedência.”
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